Definição
e a origem da água subterrânea
É toda a formação geológica com capacidade de armazenar e
transmitir a agua e cuja exploração seja economicamente rentável, por outro
podemos simplesmente dizer que são águas que se encontram debaixo da superfície
da Terra. A existência destas águas esta associada com a origem da hidrosfera.
Ela origina-se a partir de três fontes, nomeadamente, a infiltração da água proveniente
das chuvas no subsolo; a água armadilhada em grandes profundidades durante a
sedimentação; e a agua proveniente de maiores profundidades durante a
actividade vulcânica (agua juvenil).
Devido as forças de adesão e de
gravidade as aguas subterrâneas desempenham um papel essencial na manutenção da
humidade do solo, do fluxo dos rios e lagos. As águas subterrâneas cumprem uma
fase do ciclo hidrológico, uma vez que constituem uma parcela da água
precipitada.
Após a precipitação,
parte das águas que atinge o solo se infiltra e percola no interior do subsolo,
durante períodos de tempo extremamente variáveis, decorrentes de muitos factores:
- Porosidade do subsolo: a presença
de argila no solo diminui sua permeabilidade, não permitindo uma grande
infiltração;
- Cobertura vegetal: um solo coberto
por vegetação é mais permeável do que um solo desmatado;
- Inclinação do terreno: em
declividades acentuadas a água corre mais rapidamente, diminuindo a
possibilidade de infiltração;
- Tipo de chuva: chuvas intensas
saturam rapidamente o solo, ao passo que chuvas finas e demoradas têm mais
tempo para se infiltrarem.
Durante a infiltração,
uma parcela da água sob a acção da força de adesão ou de capilaridade fica
retida nas regiões mais próximas da superfície do solo, constituindo a zona não
saturada. Outra parcela, sob a acção da gravidade, atinge as zonas mais
profundas do subsolo, constituindo a zona saturada.
·
Zona não saturada:
também chamada de zona de aeração ou vadosa, é a parte do solo que está
parcialmente preenchida por água. Nesta zona, pequenas quantidades de água
distribuem-se uniformemente, sendo que as suas moléculas se aderem às
superfícies dos grãos do solo. Nesta zona ocorre o fenómeno da transpiração
pelas raízes das plantas, de filtração e de auto depuração da água. Dentro
desta zona encontra-se: Zona de humidade
do solo, é a parte mais superficial, onde a perda de água de adesão para a
atmosfera é intensa. Em alguns casos é muito grande a quantidade de sais que se
precipitam na superfície do solo após a evaporação dessa água, dando origem a
solos salinizados ou a crostas ferruginosas (lateríticas). Esta zona serve de
suporte fundamental da biomassa vegetal natural ou cultivada da Terra e da
interface atmosfera / litosfera;
·
Zona intermediária,
região compreendida entre a zona de humidade do solo e da franja capilar, com
humidade menor do que nesta última e maior do que a da zona superficial do
solo. Em áreas onde o nível freático está próximo da superfície, a zona
intermediária pode não existir, pois a franja capilar atinge a superfície do
solo. São brejos e alagadiços, onde há uma intensa evaporação da água
subterrânea; Franja de capilaridade:
é a região mais próxima ao nível da água do lençol freático, onde a humidade é
maior devido à presença da zona saturada logo abaixo.
- Zona saturada: é a
região abaixo da zona não saturada onde os poros ou fracturas da rocha
estão totalmente preenchidos por água. As águas atingem esta zona por
gravidade, através dos poros ou fracturas até alcançar uma profundidade
limite, onde as rochas estão tão saturadas que a água não pode penetrar
mais. Para que haja infiltração até a zona saturada, é necessário primeiro
satisfazer as necessidades da força de adesão na zona não saturada. Nesta
zona, a água corresponde ao excedente de água da zona não saturada que se
move em velocidades muito lentas (emdia), formando o manancial subterrâneo
propriamente dito. Uma parcela dessa água irá desaguar na superfície dos
terrenos, formando as fontes, olhos de água. A outra parcela desse fluxo
subterrâneo forma o caudal basal que desagua nos rios, perenizando-os
durante os períodos de estiagem, com uma contribuição multianual média da
ordem de 13.000 km³/ano, ou desagua directamente nos lagos e oceanos.
A superfície que
separa a zona saturada da zona de aeração é chamada de nível freático, ou seja, este nível corresponde ao topo da zona
saturada. Dependendo das características climatológicas da região ou do volume
de precipitação e escoamento da água, esse nível pode permanecer
permanentemente a grandes profundidades, ou se aproximar da superfície
horizontal do terreno, originando as zonas encharcadas ou pantanosas, ou
convertendo-se em mananciais (nascentes) quando se aproxima da superfície
através de um corte no terreno.
A DISTRIBUIÇÃO
DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO GLOBO TERRESTRE
Assim como a distribuição das águas
superficiais é muito variável, a das águas subterrâneas também é, uma vez que
elas se inter-relacionam no ciclo
hidrológico e dependem das condições climatológicas. Entretanto, as águas
subterrâneas (10.360.230 km³) são aproximadamente 100 vezes mais abundantes que
as águas superficiais dos rios e lagos (92.168 km).
Alguns especialistas indicam que a quantidade de água subterrânea pode
chegar até 60 milhões de km³, mas a sua ocorrência em grandes profundidades
pode impossibilitar seu uso. Por essa razão, a quantidade passível de ser
captada estaria a menos de 4.000 metros de profundidade, compreendendo cerca de
8 e 10 milhões de km³, que, estaria assim distribuída: 65.000 km³ constituindo
a humidade do solo; 4,2 milhões de km³ desde a zona não-saturada até 750 m de
profundidade, e 5,3 milhões de km³ de 750 m até 4.000 m de profundidade,
constituindo o manancial subterrâneo.
Além disso, a quantidade de água capaz de ser armazenada pelas rochas e
pelos materiais não consolidados em geral depende da porosidade dessas rochas,
que pode ser de até 45%, da comunicação desses poros entre si ou da quantidade
e tamanho das aberturas de fracturas existentes.
No Brasil por exemplo, as reservas de água subterrânea são estimadas em
112.000 km³ (112 trilhões de m³) e a contribuição multianual média à descarga
dos rios é da ordem de 2.400 km³ /ano. Nem todas as formações geológicas
possuem características hidrodinâmicas que possibilitem a extracção económica
de água subterrânea para atendimento de médias e grandes vazões pontuais. As
vazões já obtidas por poços variam, no Brasil, desde menos de 1 m³/h até mais
de 1.000 m³/h.
Na Argentina, a
contribuição multianual média à descarga dos rios é da ordem de 128 km³/ano, no
Paraguai, de 41 km³/ano e no Uruguai, de 23 km³/ano.
OS AQUÍFEROS
Aquífero é uma formação geológica do
subsolo, constituída por rochas permeáveis, que armazena água em seus poros ou fracturas.
Outro conceito refere-se a aquífero como sendo, somente, o material geológico
capaz de servir de depositório e de transmissor da água aí armazenada. Assim,
uma litologia só será aquífera se, além de ter seus poros saturados (cheios) de
água, permitir a fácil transmissão da água armazenada.
Um aquífero pode ter
extensão de poucos quilómetros quadrados a milhares de quilómetros quadrados,
ou pode, também, apresentar espessuras de poucos metros a centenas de metros. Etimologicamente,
aquífero significa: aqui – água e fero -
transfere; ou do grego, suporte de
água.
Os aquíferos mais importantes do mundo,
seja por extensão ou pela transnacionalidade, são: o Guarani - Argentina,
Brasil, Paraguai, Uruguai perfazendo 1,2 milhões de km²; o Arenito Núbia Líbia,
Egipto, Chade, Sudão, com 2 milhões de km²; o KalaharijKaroo - Namíbia,
Bostwana, África do Sul,com 135 mil km²; o Digitalwaterway vechte - Alemanha,
Holanda,correspondendo a 7,5 mil km²; o SlovakKarst-Aggtelek - República
Eslováquia e Hungria; o Praded - República Checa e Polônia,com 3,3 mil km²; a
Grande Bacia Artesiana, apresentando 1,7 milhões km² e a Bacia Murray com 297
mil km², ambos na Austrália. Em um recente levantamento, constatou-se que existem
mais de 100 aquíferos transnacionais naquele continente.
Tipos
de aquifero
A litologia do aquífero, ou seja, a sua
constituição geológica (porosidade ou permeabilidade intergranular ou de
fissuras) é que irá determinar a velocidade da água em seu meio, a qualidade da
água e a sua qualidade como reservatório. Essa litologia é decorrente da sua
origem geológica, que pode ser fluvial, lacustre, eólica, glacial e aluvial
(rochas sedimentares), vulcânica (rochas fracturadas) e metamórfica (rochas
calcárias), determinando os diferentes tipos de aquíferos.
Quanto à porosidade, existem três tipos aquíferos
·
Aquífero
poroso ou sedimentar - é aquele formado por sedimentos
inconsolidados ou solos arenosos, onde a circulação da água se faz nos poros
formados entre os grãos de areia, silte e argila de granulação variada.
Constituem os mais importantes aquíferos, pelo grande volume de água que
armazenam, e por sua ocorrência em grandes áreas. Esses aquíferos ocorrem nas
bacias sedimentares e em todas as várzeas onde se acumularam sedimentos
arenosos. Uma particularidade desse tipo de aquífero é sua porosidade quase
sempre homogeneamente distribuída, permitindo que a água flua para qualquer direcção,
em função tão somente dos diferenciais de pressão hidrostática ali existente. Essa
propriedade é conhecida como isotropia.
- Aquífero fracturado ou fissural - formado por rochas vulcânicas,
metamórficas ou cristalinas, duras e maciças, onde a circulação da água se
faz nas fracturas, fendas e falhas, abertas devido ao movimento tectónico.O
exemplo vai para o basalto, granitos, gabros, filões de quartzo, entre
outros. A capacidade dessas rochas de acumularem água está relacionada à
quantidade de fraturas, suas aberturas e intercomunicação, permitindo a
infiltração e fluxo da água. Poços perfurados nessas rochas fornecem
poucos metros cúbicos de água por hora, sendo que a possibilidade de se
ter um poço produtivo dependerá, tão somente, desse poço interceptar
fraturas capazes de conduzir a água. Nesses aquíferos, a água só pode
fluir onde houverfracturas, que, quase sempre, tendem a ter orientações
preferenciais. São ditos, portanto, aquíferos
anisotrópicos. Um caso particular de aquíferofracturado é representado
pelos derrames de rochas vulcânicas basálticas, das grandes bacias
sedimentares brasileiras.
- Aquífero cárstico (Karst) - formado em rochas calcárias ou
carbonáticas, onde a circulação da água se faz nas fracturas e outras
descontinuidades (diáclases) que resultaram da dissolução do carbonato
pela água. Essas aberturas podem atingir grandes dimensões, criando, nesse
caso, verdadeiros rios subterrâneos. São aquíferosheterogéneos,
descontínuos, com águas duras, com fluxo em canais. As rochas são os
calcários, dolomitos e mármores.
Quanto à superfície superior (segundo a pressão da água), os aquíferos
podem ser de dois tipos:
- Aquífero livre ou freático - é aquele constituído por uma
formação geológica permeável e superficial, totalmente aflorante em toda a
sua extensão, e limitado na base por uma camada impermeável. A superfície
superior da zona saturada está em equilíbrio com a pressão atmosférica, com
a qual se comunica livremente. Os aquíferos livres têm a chamada recarga directa.
Em aquíferos livres o nível da água vária segundo a quantidade de chuva.
São os aquíferos mais comuns e mais explorados pela população. São também os que
apresentam maiores problemas de contaminação.
- Aquífero confinado ou artesiano - é aquele constituído por uma
formação geológica permeável, confinada entre duas camadas impermeáveis ou
semipermeáveis. A pressão da água no topo da zona saturada é maior do que
a pressão atmosférica naquele ponto, o que faz com que a água ascenda no
poço para além da zona aquífera. O seu reabastecimento ou recarga, através
das chuvas, dá-se preferencialmente nos locais onde a formação aflora à
superfície. Neles, o nível da água encontra-se sob pressão, podendo causar
artesianismo nos poços que captam suas águas. Os aquíferos confinados têm
a chamada recarga indirecta e quase sempre estão em locais onde ocorrem
rochas sedimentares profundas (bacias sedimentares).
O aquífero
semi-confinado que é aquele que se encontra limitado na base, no topo, ou em
ambos, por camadas cuja permeabilidade é menor do que a do aquífero em si. O
fluxo preferencial da água se dá ao longo da camada aquífera. Secundariamente,
esse fluxo se dá através das camadas semi-confinantes, à medida que haja uma
diferença de pressão hidrostática entre a camada aquífera e as camadas
subjacentes ou sobrejacentes. Em certas circunstâncias, um aquífero livre
poderá ser abastecido por água oriunda de camadas semiconfinadas subjacentes,
ou vice-versa. Zonas de fracturas ou falhas geológicas poderão, também,
constituir-se em pontos de fuga ou recarga da água da camada confinada.
Em uma perfuração de um aquífero confinado, a água subirá acima do teto do aquífero, devido à pressão exercida pelo peso das camadas confinantes sobrejacentes. A altura a que a água sobe chama-se nível potenciométrico e o furo é artesiano. Numa perfuração de um aquífero livre, o nível da água não varia porque corresponde ao nível da água no aquífero, isto é, a água está à mesma pressão que a pressão atmosférica. O nível da água é designado então de nível freático.
Áreas de reabastecimento e descarga do aquífero
Um aquífero apresenta uma reserva
permanente de água e uma reserva activa ou reguladora que são continuamente
abastecidas através da infiltração da chuva e de outras fontes subterrâneas. As
reservas reguladoras ou activas correspondem ao escoamento de base dos rios.
A área por onde
ocorre o abastecimento do aquífero é chamada zona de recarga, que pode ser directa ou indirecta. O escoamento de
parte da água do aquífero ocorre na zona
de descarga.
- Zona de recarga directa: é aquela onde as águas da chuva
se infiltram directamente no aquífero, através de suas áreas de
afloramento e fissuras de rochas sobrejacentes. Sendo assim, a recarga
sempre é directa nos aquíferos livres, ocorrendo em toda a superfície
acima do lençol freático. Nos aquíferos confinados, o reabastecimento
ocorre preferencialmente nos locais onde a formação portadora de água
aflora à superfície.
- Zona de recarga indirecta: são aquelas onde o
reabastecimento do aquífero se dá a partir da drenagem (filtração
vertical) superficial das águas e do fluxo subterrâneo indirecto, ao longo
do pacote confinante sobrejacente, nas áreas onde a carga potenciométrica
favorece os fluxos descendentes.
- Zona de descarga: é aquela por onde as águas emergem do sistema,
alimentando rios e jorrando com pressão por poços artesianos.
As maiores taxas de
recarga ocorrem nas regiões planas, bem arborizadas, e nos aquíferos livres.
Nas regiões de relevo acidentado, sem cobertura vegetal, sujeitas a práticas de
uso e ocupação que favorecem as enxurradas, a recarga ocorre mais lentamente e
de maneira limitada.
Sob condições
naturais, apenas uma parcela dessas reservas reguladoras é passível de
exploração, constituindo o potencial ou reserva explorável Em geral, esta
parcela é calculada entre 25% e 50% das reservas reguladoras. Esse volume de
exploração pode aumentar em função das condições de ocorrência e recarga, bem
como dos meios técnicos e financeiros disponíveis, considerando que a soma das extracções
com as descargas naturais do aquífero para rios e oceano, não pode ser superior
à recarga natural do aquífero.
Funções dos Aquíferos
Além de suprir água suficiente para
manter os cursos de águas superficiais estáveis (função de produção), os aquíferos também ajudam a evitar seu
transbordamento, absorvendo o excesso da água da chuva intensa (função de regularização). Na Ásia
tropical, onde a estação quente pode durar até nove meses e onde as chuvas de
monção podem ser bastante intensas, esse duplo serviço hidrológico é crucial.
Os aquíferos também proporcionam uma forma de armazenar água doce sem muita
perda pela evaporação - outro serviço particularmente valioso em
regiões quentes, propensas à seca, onde essas perdas podem ser extremamente
altas. Na África, por exemplo, em média, um terço da água extraída de
reservatórios todo ano perde-se pela evaporação. Os pântanos, habitats
importantes para as aves, peixes e outras formas de vida silvestre, nutrem-se,
normalmente, de água subterrânea, onde o lençol freático aflora à superfície em
ritmo constante. Onde há muita exaustão de água subterrânea, o resultado é, frequentemente,
leitos secos de rios e pântanos ressecados.
Portanto, os aquíferos
podem cumprir as seguintes funções:
- Função de produção: corresponde à sua função mais tradicional de
produção de água para o consumo humano, industrial ou irrigação.
- Função de estucassem (relativo a reservas ou “stokes”) e regularização: utilização do aquífero
para estocar excedentes de água que ocorrem durante as enchentes dos rios,
correspondentes à capacidade máxima das estações de tratamento durante os
períodos de demanda baixa.
- Função de filtro: corresponde à utilização da capacidade
filtrante e de depuração biogeoquímica do maciço natural permeável. Para
isso, são implantados poços a distâncias adequadas de rios perenes,
lagoas, lagos ou reservatórios, para extrair água naturalmente clarificada
e purificada, reduzindo substancialmente os custos dos processos
convencionais de tratamento.
- Função transporte: o aquífero é utilizado como um sistema de
transporte de água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de
extracção excessiva.
- Função estratégica: a água contida em um aquífero foi acumulada
durante muitos anos ou até séculos e é uma reserva estratégica para épocas
de pouca ou nenhuma chuva. O gerenciamento integrado das águas
superficiais e subterrâneas de áreas metropolitanas, inclusive mediante
práticas de recarga artificial com excedentes da capacidade das estações
de tratamento, os quais ocorrem durante os períodos de menor consumo, com infiltração
de águas pluviais e esgotos tratados, originam grandes volumes hídricos.
Esses poderão ser bombeados para atender o consumo essencial nos picos
sazonais de demanda, nos períodos de escassez relativa e em situações de
emergência resultantes de acidentes naturais, como avalanches, enchentes e
outros tipos de acidentes que reduzem a capacidade do sistema básico de
água da metrópole em questão.
- Função energética: utilização de água subterrânea aquecida pelo
gradiente geotermal como fonte de energia eléctrica ou termal.
- Função mantedora: mantém o fluxo de base dos rios.
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