Conceito de Geomorfologia
O TERMO GEOMORFOLOGIA (DO LATIM GEO =
TERRA, MORFO = FORMA, LOGOS = ESTUDO) também é erudito e
recente, designando o ramo do conhecimento das Ciências da Natureza que estuda
as formas dos relevos.
Geomorfologia
é uma geociência que estuda, de forma racional e
sistemática, as formas de relevo, tomando
por base as leis que determinam a gênese e a evolução dessas formas.
E alias, o seu objecto de estudo é a superfície da
crosta terrestre, a qual no entanto, não se restringe à ciência geomorfológica, que possui sua forma
específica de análise do relevo.
Natureza
da Geomorfologia
A geomorfologia
é uma ciência de conhecimentos sistematizados, virado para o estudo da
superfície da crosta terrestre. O estudo é apresentado de uma forma específica
de análise do relevo. A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de
forças antagônicas, sistematizadas pelas actividades endógenas e exógenas,
responsáveis pelas formas estruturais de relevo observado.
Partindo do princípio de que tanto os factores endógenos,
como os exógenos, são “forças vivas'', cujas evidências demonstram grandes
transformações ao longo do tempo geológico, necessário se faz entender que o
relevo terrestre não foi sempre o mesmo e que continuará evoluindo. Portanto, a
análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente o
conhecimento da evolução que o relevo apresenta, o que é possível se obter
através do estudo das formas e das sucessivas deposições de materiais
preservadas, resultantes dos diferentes processos morfogenético a que foi
submetido.
O relevo assume importância fundamental no processo de
ocupação do espaço, factor que inclui as propriedades de suporte ou recurso,
cujas formas ou modalidades de apropriação respondem pelo comportamento da
paisagem e suas consequências.
Ao se apresentar um estudo integral do relevo, deve-se
levar em consideração os três níveis de abordagem sistematizados por Ab'Saber
(1969), e que individualizam o campo de estudo da geomorfologia: a compartimentação morfológica, o
levantamento da estrutura superficial
e o estudo da fisiologia da
paisagem.
A compartimentação morfológica inclui
observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do
relevo, que apresentam uma importância directa no processo de ocupação. Nesse
aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de
risco que uma área possui, oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma
de ocupação e uso.
A estrutura superficial, ou depósitos
correlativos se constitui importante elemento na definição do grau de
fragilidade do terreno, sendo responsável pelo entendimento histórico da sua
evolução, como se pode comprovar através dos paleopavimentos. Sabendo das
características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em
diferentes condições climáticas, torna-se possível compreender a dinâmica
evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em
relação aos níveis de base actuais, vinculados ou não a ajustamentos
tectônicos.
A fisiologia da paisagem, terceiro nível
de abordagem, tem por objectivo compreender a acção dos processos
morfodinâmicos actuais, inserindo-se na análise o homem como sujeito
modificador. A presença humana normalmente tem respondido pela aceleração dos
processos morfogenéticos, como as formações denominadas de tectogênicas,
abreviando a atividade evolutiva do modelado. Mesmo a acção indirecta do homem,
ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal, altera de forma
substancial as relações entre as forças de acção (processos morfogenéticos ou
morfodinâmicos) e de reacção da formação superficial, gerando desequilíbrios
morfológicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa, boçorocamento, assoreamento, dentre outros,
chegando a resultados catastróficos, a exemplo dos deslizamentos em áreas
topograficamente movimentadas.
No estudo desses níveis, do primeiro em relação ao
terceiro, os processos evoluem de uma escala de tempo geológica para uma escala
de tempo histórica ou humana, incorporando gradativamente novas variáveis
analíticas, como relacionadas a derivações antropogênicas, e exigindo maior
controle de campo, o que implica emprego de técnicas, como o uso de miras
graduadas para controle de processos erosivos, podendo chegar a níveis elevados
de sofisticação análises específicas.
O estudo das formas do relevo deriva substancialmente das
concepções geológicas do século XVIII, que representaram a tendência
naturalista, voltada aos interesses do sistema de produção, tendo o
“utilitarismo” como princípio. Em torno de 1850 a geologia havia chegado a
grandes interpretações de conjunto da crosta terrestre, contando com um corpo
teórico ordenado. A partir de então se registaram as primeiras contribuições
dos geólogos nos estudos do relevo, dentre os quais se destacam os trabalhos de
A. Surell, expondo esquema clássico da erosão torrencial, de Jean L. Agassiz,
estabelecendo as bases da morfologia glacial, de W. Jukes, apresentando os
primeiros conceitos sobre o traçado dos rios, de Andrew Ramsay e Grove K.
Gilbert, evidenciando a capacidade de aplainamento pelas águas correntes, de
John W. Powell e Clarence E. Dutton, calculando os ritmos de arraste e
deposição dos sedimentos, dentre outros (Mendonza et al, 1982).
No final do mesmo século, William M. Davis, dando
prosseguimento aos estudos de G. K. Gilbert e J.W. Powell apresenta proposta de
uma geomorfologia fundamentada na tendência escolástica da época, representada
pelo evolucionismo. Como se sabe, a influência do darwinismo como forma de
substituição do modelo mecanicista influenciou significativamente o
conhecimento científico geral. A escola geomorfológica alemã, por outro lado,
encabeçada por Albrecht Penck e Walther Penck, defensora de uma concepção
integradora dos elementos que compõem a superfície terrestre, se contrapôs às
ideias de W. Davis, fundamentada na noção de ciclo, tida como “finalista”.
Evidencia-se, portanto, o nascimento de duas escolas geomorfológicas distintas, que serão consideradas a seguir, e cuja sistematização fundamentou-se em estudos desenvolvidos por Leuzinger (1948) e Abreu (1982 e 1983).
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Objecto de Estudo
A
geomorfologia é uma ciência que tem por objectivo analisar as formas do relevo,
buscando compreender as relações processuais pretéritas e actuais.
Seu objecto de estudo
é a superfície da crosta terrestre, a qual no entanto, não se
restringe à ciência geomorfológica, que possui sua forma específica de análise
do relevo.
O
trabalho geomorfológico, que pressupõe do pesquisador uma série de
conhecimentos de outras ciências, implica nas seguintes actividades: descrição,
localização e dimensionamento dos diversos compartimentos e feições de relevo
verificados na epigeoesfera. Além dessas preocupações, a Geomorfologia
volta-se, principalmente, à gênese e à evolução do relevo terrestre. A
Geomorfologia é, portanto, uma ciência descritiva e genética
Lugar da geomorfologia no contexto das
ciências
Será
a Geomorfologia uma ciência geológica, geográfica ou geofísica? Onde se situa, portanto, a Geomorfologia no
quadro geral das ciências da Terra
O geocentrista francês, Jean Goguel, apresentou uma
classificação das geociências, bastante simples, que pode servir para subsidiar
a resposta à questão anteriormente apresentada. Para este autor, as ciências da
Terra podem ser agrupadas em três categorias distintas:
a) Ciências da
Geofísicas, que são
as aquelas que tratam de fenômenos terrestres, de natureza física, mas sob a
óptica da Física. A Sismologia, a Meteorologia e a Hidrologia Fluvial
exemplificam esse grupo de ciências
b) Ciências
Geológicas, são aquelas que se propõem à reconstituição da história física do planeta
Terra, tal como ela pode ser
vista ou lida nos diversos estratos rochosos presentes na epigeoesfera. As
ciências geofísicas, em geral, prendem-se ao aspecto actual dos fenômenos
físicos, quer os que têm uma evolução rápida, tais como os envoltórios fluidos
e alguns factos da litosfera, a exemplo dos abalos sísmicos e o magnetismo
terrestre, quer os de carácter permanente, como a aceleração da gravidade
Podem ser mencionados diversos exemplos de Ciências
Geológicas, algumas das quais mantêm estreitos vínculos com a Geomorfologia. A
Geotectónica, a Geologia Estrutural, a Paleontologia, a Sedimentológica e a
Estratigrafia são os exemplos mais notáveis. A ciência geológica, quando se
dedicam à descrição da natureza dos terrenos e ao estudo das distribuições da
litomassa, fá-lo com vistas à interpretação de fenômenos passados, que são
reconstituídos por métodos geohistóricos.
A Geologia, quando investiga a história da Terra, desempenha
essa tarefa através, sobretudo, de uma analogia com o que a observação dos
factos naturais, feita de forma directa, pode proporcionar. Por exemplo, ao se
constatar que no presente determinadas causas produzem tais efeitos, efeitos
análogos pressupõem as mesmas causas.
A Geomorfologia estuda o passado para compreender o
presente. A Geologia faz exactamente o inverso. A Geomorfologia procura
explicar as formas actuais de relevo, que podem ser facilmente divisadas na
paisagem, por sua gênese, por seu passado, às vezes muito distante. Porém, a
exemplo da Geologia, a Geomorfologia não pode avançar, a não ser a partir de um
raciocínio analógico, que parte do presente. Essas ideias, na verdade, estão
contidas no célebre Princípio do Actualismo, examinado mais adiante nestas
Notas.
c) Ciências Geográficas
têm como objecto de estudo o facto geográfico. Assim ensina a Geografia
Clássica. O facto geográfico é algo que possui uma estrutura extremamente
complexa e resulta da combinação de elementos e factores solidários (Andrade,
1965).
São três as escalas de complexidades da combinação
geográfica: físicas, combinações químico-biológicas e físico-biológico-humanas.
O relevo terrestre, abstraindo-se a cobertura vegetal, é
um bom exemplo da complexidade das combinações físicas. Estrutura geológica,
condições climáticas actuais ou pretéritas e os processos erosivos materializam
tais combinações.
A estrutura geológica compreende, dentre outros aspectos,
as forças tectônicas, a natureza das rochas, a disposição das camadas rochosas
e os graus de resistência da litomassa aos processos de meteorização e de
erosão.
As condições climáticas determinam os efeitos da
meteorização mecânica ou química e os processos morfoclimáticos esculturadores
das paisagens geomorfológicas continentais. Tais processos definirão os vários
sistemas de erosão encontrados na superfície terrestre.
A Geomorfologia no
quadro geral das Ciências da Terra
Se situa na interface existente entre as Ciências
Geológicas e as Ciências Geográficas, segundo a classificação de Goguel. Essa
ciência mantém profundos vínculos, já assinalados, com a Geologia. Mas é também
essencialmente geográfica, na medida em que depende dos conhecimentos de
Climatologia, Paleogeografia, Fitogeografia, Pedologia e Hidrografia e se fornece
substanciais informações necessárias ao entendimento da produção do espaço
geográfico.
Segundo
Kostenko (1975), a Geomorfologia funciona como uma ponte entre a Geografia e a
Geologia, e estuda uma série de problemas complexos e heterogêneos, alguns dos
quais resolvem-se através de métodos fisico-geográficos e outros mediante a
aplicação de métodos geológicos.
Relação da geomorfologia com outras
Ciências
A
geomorfologia estuda o relevo. Assim, ela se relaciona intimamente com a
geologia e a geografia. Enquanto a primeira fornece vários conhecimentos
relativos às rochas e aos minerais, ao tectonismo, ao vulcanismo, às estruturas
geológicas; a Segunda fornece subsídios importantes sobre o clima e suas
relações com as formas e evolução do relevo, a ocupação humana, a produção do
espaço geográfico e suas consequências ambientais, entre outros.
Importância da Geomorfologia
É Importante
estudar a geomorfologia porque permite que o Homem obter conhecimentos
profundos sobre a génese, causas e efeitos dos agentes que participam na
formação do relevo.
Procura investigar, com base em teorias, princípios e leis o entendimento
das relações entre os solos e relevos, passando pela compreensão dos processos
dinâmicos (intemperismo) que agem na parte superficial da crosta, responsáveis
pela elaboração dos relevos e gênese dos solos, isto é, morfogênese (entendida
como processos erosivos) e da pedogênese (entendida como processos bioquímicos
relacionados à alteração das rochas a compreensão das relações entre os solos e
os relevos.
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